terça-feira, 29 de julho de 2008

Hoje, ela estaria completando 90 Anos...


A matéria a seguir, foi publicada na edição de julho do Jornal “Tribo de Levi” em homenagem à D. Beatriz.

As bem-aventuranças do Ancião


“Bem aventurados aqueles que compreendem os meus passos vacilantes e o tremor de minhas mãos. Bem aventurados aqueles que distinguem em meus olhos as lentas reações. Bem aventurados aqueles que percebem o esforço de meus ouvidos para captar suas palavras. Bem aventurados aqueles que fingem não ver o café que derramei na mesa. Bem aventurados aqueles que se alegram com o meu sorriso e me deixam falar coisas sem importância. Bem aventurados aqueles que nunca replicam: “já me contou isso tantas vezes”. Bem aventurados aqueles que me fazem sentir afeto em vez de abandono.” – Autor desconhecido
“Bem aventurados aqueles que acreditam que a velhice não é uma doença e sim uma fase da vida, uma fase bonita, uma fase onde as coisas do mundo já não são mais tão importantes, onde o que realmente vale é lembrar, são as alegrias que passaram os sorrisos que foram dados, os problemas que foram resolvidos, a vida que foi construída.
Chegar a velhice é uma benção, é ter certeza que todos os momentos difíceis que foram vividos não foram só um sofrimento e sim uma conquista, um crescimento. Estar velho é comprovar que fraqueza física não interrompe as possibilidades de sermos felizes. Chegar à velhice é ter a certeza mais concreta de que Deus existe e que o seu amor é tão grandioso que é capaz de nos devolver a inocência da infância e assim voltarmos a ser criança. Bem aventurados, são aqueles que acolhem seus idosos, não como um peso mas como uma benção de Deus”. – Beatriz Pereira Franco
A união destes dois textos foi a mensagem que Dona Beatriz leu na missa dos idosos que aconteceu em maio na capela Nossa Senhora das Graças. Foi um texto muito comentado, aplaudido e desejado por muitos, por isso a Tribo de Levi disponibiliza as duas metades desta mensagem. O curioso, é que nas bem aventuranças do ancião, dona Beatriz deixou de fora a última parte,a que parece ser a mais mística para aquele momento:

“Bem aventurados aqueles que amenizam com amabilidade e atenções minha caminhada para o céu.”

Esta é a historia de Beatriz Pereira Franco (1918-2008).

Filha de José Martins Pereira (1876-1946), o “Seu Zezinho” e de Luiza Almeida Pereira (1988-1960) a “Dona Lulu” irmã de José Martins de Almeida, João Martins de Almeida e Carlos Almeida Pereira. Beatriz teve ao todo 11 irmãos, mas somente estes se criaram com ela. Houve uma irmã, Maria do Carmo, que chegou a viver 4 anos, mas uma doença a levou. O irmão mais velho, José Martins, faleceu em 1958 e João Martins faleceu em 1981, ficando somente Carlos Almeida e Beatriz.
Beatriz viveu na infância em Fortaleza, mas,depois que o pai adquiriu um terreno em São Bernardo, légua e meia da ferroviária de Muquém, perto de Quixadá,toda a família mudou-se para o sertão. Lá, Beatriz,era chamada de “Bibabi”para o irmão Carlos. Passados alguns anos morando no sertão a família retorna à Fortaleza, instalando-se na Rua da Cachorra Magra, conhecida depois como Rua Marechal Deodoro da Fonseca, perto da Rua do Benfica, e esta rua hoje chama-se Avenida da Universidade. Deste local foram depois para Otávio Bonfim.
Em Otávio Bonfim, a família freqüentava a igreja de Nossa Senhora das Dores. Beatriz envolveu-se nos trabalhos da igreja como pôde. Ela tinha 12 anos e além de cantora e “Filha de Maria” interessou-se muito em estudar piano e com o tempo tornou–se organista. Para onde a família mudasse, em busca de sobrevivência, Beatriz freqüentava e procurava ajudar nos serviços da igreja local.
E a família segue seu destino. O irmão José segue carreira militar desligando-se completamente da família , visitando-os raríssimas vezes. João casou, se tornou funcionário da Secretaria de Agricultura do Ceará e o irmão mais novo, Carlos, tornou-se Franciscano (porém ,muitos anos depois de tornar-se religioso,Carlos deixou o hábito e casou aos 53 anos com uma jovem de 29 anos e teve 02 filhos). Beatriz casou com o primo, José Martins Franco, cirurgião dentista. Beatriz acompanhava o marido por muitos lugares no interior do estado do Ceará, mas terminaram ficando-se em Cascavel. Teve filhos, porém, o casamento não foi tranqüilo. Ela teve de enfrentar muitos problemas. Depois da morte da mãe, Beatriz pensou seriamente separar-se, e quando começou a apresentar problemas de saúde e depressão, confirmou a separação. Foi morar um tempo com o irmão João em Russas.
Beatriz teve 04 filhos: Jose Almar, já falecido em 1978 num desastre de avião; Sérgio, empresário; Luciano, músico; e Flávio.
No final dos anos 70, já com 52 anos, foi morar em Fortaleza, no bairro do Parque Rio Branco, participando da paróquia Jesus Maria e José. Depois que o bairro ganhou a capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a Capelinha, Beatriz engajou-se fortemente na música e tocou por anos com o coral que contava com a presença de muito membros da igreja, em especial Ana Lucia da Catequese e do Sr.Henoque. Com a construção da Capela Nossa Senhora das Graças, ela participava dos Amigos de Santo Antônio e da Pastoral dos idosos.
Aos 79 anos participou de uma peregrinação á Terra Santa com uma caravana de 12 pessoas e foi sem a presença de nenhum conhecido. Aos 83 recebeu uma homenagem do prefeito de Cascavel e foi diplomada com uma placa de agradecimentos por seus serviços. Aos 84 leu um texto de sua autoria chamado “Quero envelhecer sorrindo” na Capela Nossa Senhora das Graças e emocionou muita gente. E à vida toda participou como pôde na igreja local honrando o nome de cristã.
Dona de uma inteligência admirável, um gosto musical refinado e de finos modos, lecionou música e fez muitas caridades que ficaram no esquecimento da vida pública , só ficando na memória dos que a acompanharam de perto. Nos seu últimos anos de vida queixava-se por não mais poder servir à igreja como gostaria e de não ser mais ser requisitada como antes para servir. A visão já estava desgastada demais, bem como a audição.A locomoção era dificultosa e a impedia de participar de todas as missas e eventos que gostaria.
Neste ano de 2008, escreveu sua “despedida” com o texto “Bem Aventurados” (ver) no dia da Missa dos idosos na Capela Nossa das Graças. Na madrugada do dia 09 de junho faleceu vindo a ser sepultada posteriormente no Cemitério Parque da Paz. A missa de sétimo dia aconteceu Capela de Nossa Senhora das Graças e a de um mês de falecimento ocorreu na Capela de Nossa Senhora do perpétuo Socorro.
Aqui fica registrado um resumo geral da vida de Beatriz Pereira Pereira. Uma nota musical que tocou a Capela Nossa Senhora das Graças. Você teve sensibilidade para ouvi-la? Quantas outras notas ainda estão perto de nós e não sabemos. Ouçamos então.

Fontes: Livro Sombras e Luzes do meu Caminho - Carlos Almeida Pereira.
Entrevistas à Claudia Regina na edição No 41 da Tribo de Levi no ano 2003.
Pesquisa em registros históricos.

Um comentário:

Sérgio Almeida Franco disse...

Todos sabem que saí do Ceará há bastante tempo. Já se vão mais de 30 anos. Mas a distância nunca me fez ausente de minha terra, de meus amigos, de minha família e de minha inesquecível mãe.

Devo a ela tudo que um filho pode receber de uma mãe dedicada e exemplar.

De seu filho muito tempo distante, mas nunca ausente.


Sérgio