"Netos são como heranças: Você ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu...E não se trata de um filho apenas suposto. O neto é realmente, o sangue do seu sangue, filho(a) do filho(a), mais que filho mesmo..."
Raquel de Queiroz
Um beijo no coração de cada Avô ou Avó.
Carmen
Enviado pela querida vovó Maria Carmen Monteiro de Holanda, Presidente de Honra da AFA, Fortaleza/Ce
Poesias da Vovó
A avó
A vovó também é velha,
Franzidinha como quê.
Passa os dias lá na rede,
Entretida no crochê.
Às vezes fica zangada
Com o barulho que faço.
Pega na chinela, eu me rio,
Ela ri e lá vem um abraço.
Um dia virou a casa
Para os óculos achar.
Remexeu canto por canto
E queria me culpar.
Bem que eu sabia de tudo,
Mas aquilo era uma festa,
Pois vovó tinha os óculos
Presos no alto da testa.
Bastos Tigre
Os Óculos da Vovó
— Como acabar meu tricô,
como assistir à novela,
se esses óculos benditos
me somem sem mais aquela?
Vovó, procurando os óculos,
vai do quarto para a sala
e de novo volta ao quarto,
sem ninguém para ajudá-la.
E até parece que os netos
estão a se divertir,
pois mesmo seu predileto
faz força para não rir.
Deve saber onde estão,
porque lhe diz o malvado:
— Já está ficando quente
seu chicotinho queimado!
E o diz quando está no quarto
ou à sala torna a voltar.
— Mas como pode uma coisa
em dois lugares estar?
Em sinal de desespero
leva então as mãos à testa:
ali estão os seus óculos
e tudo vira uma festa.
DOM MARCOS BARBOSA ~
A Avó
A avó, que tem oitenta anos,
Está tão fraca e velhinha! . . .
Teve tantos desenganos!
Ficou branquinha, branquinha,
Com os desgostos humanos.
Hoje, na sua cadeira,
Repousa, pálida e fria,
Depois de tanta canseira:
E cochila todo o dia,
E cochila a noite inteira.
Às vezes, porém, o bando
Dos netos invade a sala . . .
Entram rindo e papagueando:
Este briga, aquele fala,
Aquele dança, pulando . . .
A velha acorda sorrindo,
E a alegria a transfigura;
Seu rosto fica mais lindo,
Vendo tanta travessura,
E tanto barulho ouvindo.
Chama os netos adorados,
Beija-os, e, tremulamente,
Passa os dedos engelhados,
Lentamente, lentamente,
Por seus cabelos, doirados.
Fica mais moça, e palpita,
E recupera a memória,
Quando um dos netinhos grita:
"Ó vovó! conte uma história!
Conte uma história bonita!
"Então, com frases pausadas,
Conta historias de quimeras,
Em que há palácios de fadas,
E feiticeiras, e feras,
E princesas encantadas . . .
E os netinhos estremecem,
Os contos acompanhando,
E as travessuras esquecem,
— Até que, a fronte inclinando
Sobre o seu colo, adormecem . . .
Olavo Bilac
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