CLÁUDIA COLLUCCI
folha DE SÃO PAULO
De mansinho, Paola se aninha no colo da mãe. São 10h de quarta-feira, ela está gripada e quer mamar. A menina se ajeita e começa o ritual da amamentação. O inusual na cena é ela ter sete anos.
Controversa, a amamentação prolongada vem sendo adotada por muitas brasileiras adeptas do movimento chamado Criação com Apego (Attachment Parenting), que também prega que os pais durmam junto com os filhos até quando eles quiserem.
O movimento nasceu há 20 anos nos EUA, após a publicação do livro "The Baby Book" (O livro do bebê, em tradução livre), do pediatra William Sears. A obra defende uma educação amável e sem castigos e punições.
Na semana passada, o assunto ganhou destaque após a revista "Time" estampar na capa uma mãe amamentando o filho de três anos. O garoto usa um banquinho para alcançar o seio materno.
Não há uma idade limite para o desmame, segundo a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria). A OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza aleitamento exclusivo até os seis meses de idade. E recomenda que as crianças continuem sendo amamentadas no peito por até, pelo menos, dois anos.
"Não há estudos que apontem prejuízo às crianças que são amamentadas acima de dois anos. O momento de parar é uma decisão entre mãe e filho e está muito relacionada a fatores culturais", diz a pediatra Graziete Vieira, do departamento de aleitamento materno da SBP.
Segundo ela, pesquisas mostram que, quanto maior o tempo e a dose de amamentação, mais proteção imunológica terá a criança.
Na prática, porém, a maioria dos pediatras é avessa à proposta do aleitamento prolongado. "É uma aguinha com um pouquinho de sabor. O leite já não tem mais a mesma quantidade de nutrientes", diz o pediatra Cid Pinheiro, professor na Santa Casa de São Paulo.
Ele também aponta possíveis prejuízos nutricionais. "Se a criança for mamar em horário próximo a uma refeição, pode perder a fome e não se alimentar corretamente."
Para o pediatra, crianças que mamam no peito ou dormem na cama dos pais com "com cinco, seis, sete anos" podem ter prejuízos psicológicos. "Será que é desse tipo de segurança que elas precisam dos pais? Será que não estamos postergando o amadurecimento delas?"
VIDA REAL
A médica Marina Rea, membro do Comitê Nacional de Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, argumenta que, no aleitamento prolongado, a criança continua a receber uma quantidade de nutrientes "apreciável", tanto em calorias (proteínas) quanto de micronutrientes (como vitamina C).
Ela reconhece, porém, que, com o passar do tempo, é pequena a quantidade de leite materno. "Mas é um líquido de alta qualidade."
Para ela, a relação emocional que existe na continuidade da amamentação da criança maior merece mais estudos. "Fala-se em crianças menos estressadas e menos agressivas. Mas não há comprovação científica."
No entanto, para a psicóloga especialista em educação Roseli Caldas, professora da Universidade Mackenzie (SP), o aleitamento prolongado distancia as crianças da vida social real e pode ser um risco à autonomia delas. "A gente não precisa disso para estar com o outro", diz.
Segundo ela, a amamentação é um vínculo de suprimento, que só cabe quando a criança é pequena. "Depois, deve ser substituído por outras mediações. As pessoas têm que estar juntas não só pelo suprimento da outra, mas pela presença."
Isso também cabe para o dormir compartilhado. "A criança precisa criar o seu espaço e respeitar o do outro."
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